Ele tinha uma voz muito peculiar, masculina e doce. Os cabelos negros e olhos muito verdes, a boca roxa e cianótica. Lembrá-lo é sempre meio parecido com uma invenção infantil, pela forma que a vida se lhe apresentou: curta, dura, implacável.
Gostava muito de plantas, cuidava delas com muito carinho e quando ele morreu, elas se foram. Foi-se também o canário belga, esqueceram de alimentá-lo. Esqueceram de lembrá-lo. Esqueço sempre de esquecê-lo, entre histórias e estórias que confundem sua memória na minha.
Ele era um homem, manso, assustado com o inevitável da proximidade da morte. Viveu os derradeiros dias proclamando o gosto do momento. Um amigo, um amante, um pai, um trabalhador. Ele é. Não o encontro, no lugar onde foi deixado esse seu ser, que ainda é.
Essa busca me leva a encontros curiosos, estranhas erosões que o tempo provocou, pessoas, relatos, fotografias.
Um vazio indizível, e uma ausência verde, a intuição de um olhar. Quitação impossível, dívida de cobrança impertinente.
Nessa inexistência mentirosa, uma sombra a me fitar.
domingo, fevereiro 04, 2007
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