quinta-feira, outubro 19, 2006

Um blog inútil

Tá bem, faço o blog...

Com o propósito de produzir subliteratura, propósito obviamente inconsciente, na verdade queria experimentar um diário solto na blogosfera, essa terra aparentemente de ninguém que está cercada de pequenas ilhas e tal e coisa.


Ophélia precisa de tempo... Talvez nem precise na verdade. Ophélia abandona o barco, navegar outros mares...

quarta-feira, outubro 18, 2006

Memória

salada de frutas
sandália chinesa
pastor alemão
banho de rio
estrada de terra
espelho, espelho meu
dor de perna
silêncio
avião, avião, avião
medo e morte
c cedilha
a alma em carne viva
insônia
cartilha
solidão

terça-feira, outubro 17, 2006

A morte da ortografia, sua longa agonia, e já vai tarde

Na web cada um escreve como sabe, pode e lhe convém. E vem aí novas linguagens muito bem vindas, inteligíveis que sejam é claro. As crianças sofrem muito na passagem da linguagem oral à escrita porque já assimilaram uma gramática implícita nos falares do ambiente e em seu profundo e relâmpago processo de maturação. Quanto aprende uma criança na primeira década da vida, andar, falar, escrever, fazer a própria higiene, aprender escolhas etc?

Isso aí é tema prá muita polêmica e pouca conclusão. Eu gosto de gramáticas e dicionários, mas me sinto muito à vontade para errar, coisa que é por demais humana e comum.

Pessoalmente, esquartejava o professor pasquale cipro neto, eu acho que é esse (?), um que entre outros dejetos que alardeia, quer o correto cunho vernáculo em seu lugar. Hoje estou para poucos amigos, e esse sujeito me exaspera...

Enfim, eu erro, tu erras, ele erra... erramos todos vez por outra. Não há por isso nenhum constrangimento que caiba... A gramática, a etiqueta, a ética, que aprendemos em casa, na escola e experimentamos no cotidiano, são por demais delicadas, um fio fino entre o certo e o errado. Por isso existe aprendizado, desde o mais remoto cair e levantar. Há sempre uma correção se isso vier a nos incomodar, ou não... podendo ser o "erro" um delicioso ato falho...

domingo, outubro 15, 2006

Desertando de Piegas City

Hoje é domingo e tem gente delirando mais e melhor, recolhida à minha insignificância literária, recomendo demais: http://www.abominnavel.blogger.com.br/

abominnavel disse tudo

hj eu to cuspindo lá longe, sugiro um concurso, não é exatamente original. Tá rolando.

sábado, outubro 14, 2006

Hoje é o tempo, da delicadeza



Todo o sentimento Cristóvão Bastos - Chico Buarque/1987

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei,
como encantado
Ao lado teu

sexta-feira, outubro 13, 2006

Tem mais água nos meus olhos que nesses todos oceanos, o que não sei explicar no momento, descontei na br e vim pisando com pressa, correndo, passandos os carros, perdi a hora, de qualquer maneira tudo é demora, e derramamento de momentos que não passam, são lágrimas que já foram choradas, elas retidas à margem de mim, exteriores a mim, internamente assim.

Eu achei e não sei onde encontrar, me possui sem tocar, coisa non sense mesmo esse jeito de amar.

Eu vou me vingar dessa fidelidade lendo Nietzche, mesmo sendo cega vou de Freud, deixo Sade me frequentar. Isso tudo regado ao soneto da fidelidade, com o fantasma de Vinícius jurando a imortalidade da chama, bem malvado ingênuo, com versos de Born to be wild na cela da prisão.

Estou desse jeito, mas mudo depressa, efeito travessa, vai passar...

Espero alinhavando uma costura, uma Penélope determinada e impura, sonhando seu Ulisses além mar. E o tempo que alivie, algum deus que interceda nessa curiosa confusão. Devolve minha solidão, a inércia, a constância, aquele inferno menor que precedia essa paixão. Ou me queime depressa, que eu sou meio esperta e viro Phoenix na multidão.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Tabacaria & inquietude

"NÃO SOU NADA
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
...

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Hoje estou dividido entre a lealdade que devo
A Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora
E a sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro"

Fernando Pessoa

é um empréstimo, estou repleta, completa.
um longo dia de seda e rendas,
um dia de luta como tantos outros,
minha pessoa apaixonada irriquieta.

Entorno nas palavras
jamais poderão como o silêncio
como a plenitude da ausência
os segredos das entrelinhas

todas as faces da pulsão
as tentativas fúteis
pressão, expressão
jogo pro alto

não sem razão: miragens
trilhando caminhos
acho que achei tudo,
imagem e mensagem
tudinho.

eu quero seu coração.

Feche os olhos

beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca
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terça-feira, outubro 10, 2006

1979-1996

Haja vista
toda gente
organizações e labirintos
interrogações
pelas marcas no corpo

São dois lutos
amigos, parentes
viscosas paixões
e os dias nascem
pára e pasma

Gavetas reviradas
documentos e fatos
fotos e casos
estou cansada
das marcas

Um existir estigma
Sempre a jornada
reino enigma
hoje não rola
estou cansada.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Improviso para assustar a solidão

Tranquei o caderno, vou falar como quem se despe, o que só pode ser mais divertido. E fazer música atirando o chinelo na parede, o cachorro no sofá, a louça na pia...

"aqui prá nós, cantar não está prá peixe, tem coisa transformando água em pó, amigo velho amar não interessa, eu quero é destilar as emoções"...

Linda música, mas amar me interessa sim, é só o que interessa, e saber seus pensamentos, e confiar nos momentos, destemperar o concreto, correto, burocrático, massacramentos que nos impõem.

Enquanto houver coragem para enfrentar essas tardes cinzas, haverá força e crescimento, um frequente aumento, senão do lucro do pedaço de papel verde, o lucro da superação, o riso, o passo ensaiado, agora preciso, porque há rumo e direção.

O resto são pássaros coloridos, águas translúcidas e pessoas bonitas, surgindo no verde, nos cabelos de nuvens, nos olhos de lua em imensos lençóis. Esse fantástico cinema grátis, cultivado na escuridão.

Segura firme, é travessia, pega a minha mão.

domingo, outubro 08, 2006

Veludo

Há uns dez anos, mais ou menos, tivemos um peixe azul, de briga, seu nome, Veludo. Viveu conosco por um curto período de seis meses e deixou um registro no dia de sua morte, no diário da época.

Desde que vi tal registro, em letras claras, nesse obtuário improvisado, me perguntei quantos Veludos atravessaram minha vida, ocuparam meu afeto, meus cuidados, inspiraram paixões que flamejam no amanhecer.

Há Veludos que são eternos, vão se fisicamente e continuam a interrogar pelo próximo evento de amor, os gestos perdidos ou achados na memória, aquele luto que não se fecha, implorando protestos negros exibicionistas.

Cada dia que passa cuido melhor dos meus Veludos, por saber que um dia hei de perdê-los, por conhecer a intensa felicidade de tê-los, por viver um subreptícil medo, atravessando a espinha, como um aviso, uma ameaça odiosa...

Não, eu não saberia perdê-lo...

quinta-feira, outubro 05, 2006

Um certo poema e saudade

De manhã, no ruído da água caindo
pela torneira aberta
o poema...
Fuga maciça das estrelas
das galáxias vizinhas

Combinar um vestido e um perfume,
tarefa agora de absoluta impossibilidade
Café com papel
papel com letras

Olho e olho ainda
repito, mastigo, o poema enorme,
não pára de crescer
cada momento um sentido

leitura e leitura,
como no mundo cabe?
tantos sentidos sentimentos
presença momentos...

assim perdido longe,
perdido sentido, monge.
frases palavras um susto:
um surto de solidão.

imensa a absurdidade
parece mentira e é verdade
um sentimento de infinito
dentro de uma aguda saudade

segunda-feira, outubro 02, 2006

A maior ponte do mundo

A maior ponte do mundo é um conto imperdível do Domingos Pellegrini e fala da maneira alucinada com que se constróem as coisas por aqui, no caso a ponte Rio-Niterói. Cortázar que também gostava do símbolo dizia simplesmente: não existe ponte que se apóia de um lado só. Lenine também tem sua ponte que começa com um monólogo lindo explicando que música está em qualquer lugar, que pode começar batendo lata e terminar matando a fome de um guri.

Eu de mata burro a pontes imensas sempre fui fascinada por pontes, que são as metáforas perfeitas de como as pessoas podem se relacionar através da linguagem. E não é à tôa que nas guerras são os alvos fáceis para desmantelar comunidades, tornar sem acesso as cidades, por aí vai.

"Esse lugar é uma maravilha, mas como é que faz para sair da ilha? É pela ponte"... Grande Lenine. Imenso Cortázar.

bj no coração

domingo, outubro 01, 2006

Domingo, o dia...

No meio da fumaça retalhos de diálogos, silêncios, idéias apaixonadas ou superficiais, ou inquerindo e debulhando minha ignorância. A cara de pau com que fuça minha intimidade e vasculha mentes das gentes ao redor.

Tentando explicar por trás das palavras de quem cresceu cercada de montanhas e sabe se esconder e sabe aparecer antes do pôr-do-sol, num céu vermelho que só existe aqui.

Bom é imaginar seus olhos, o jeito como segura o cigarro, sua forma de beijar, seu frio, seu calor, seu cheiro... De qualquer forma combinamos a caminhada na praia, é como se fosse logo, que fosse amanhã. Coisas que lhe dizem respeito sempre me interessaram, ainda e muito mais.

Comemoro enfim a lei do phoda-se com que anulei alguns dos votos e sou livre outra vez, para ser só dos meus sonhos e fantasias, que são mesmo muito de você, um mistério, muitas revoltas e sedução.

É bom ganhar, melhor que não lutar, há tantas coisas acontecendo e o cotidiano demanda outras batalhas. Hoje foi um dia de vitória, liberta das trapalhadas do ideal, do compromisso com a doxa, um coito do paradoxo, mais sexualidade da razão.

e dá-lhe!

que domingo é o dia