domingo, dezembro 31, 2006

Noites

E olhava tímida aqueles fogos de artifício na praça, bem à meia noite do dia trinta e um. E pensava em beijo. Sempre gostei muito de beijo na boca, aprende-se muitos segredos beijando a boca dos homens.

Então. A cidade pequena, montanhas por todos os lados e crescendo em progressão, fazendo a linha do horizonte, e a certeza de que clareando haveria banho de cachoeira.

Pessoas eram arcas cheias de guardados e mistérios, algumas costuras, contas, o dízimo, a solidão. Muito duro amanhecer sem a memória dos fogos. Haviam tantas coisas para saber que eu ignorava. Na minha ignorância, eu era, eu existia, eu estava, eu solidão. Passavam datas. Foi há muito tempo. Pedras nas ruas, pérolas nos dedos e um intervalo de décadas entre uma coisa e outra.

Ruídos e conversas picadas, gente indo e vindo. Para mim aquilo não me dizia respeito, não era nada naquela comemoração e isso era bom.

Quanto às décadas, sobra uma senssação de que o mundo não mede dores, o tempo não mede provações. Ele, o tempo, tem uma navalha afiada e de quando em quando, faz um talho na gente. Que é prá não nos esquecermos que a dor é aguda, e não nos esquecermos que ele pode mais: é um dos disfaces do todo poderoso, deus, em noites como essas, de natal e reveillon.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Cadê meu divã?

Abro os olhos de manhã e pasmo: ainda respiro. Se não por este detalhe estaria noutra instância, livre de matéria e posses. Coisa chata é possuir, mesmo um copo vazio pode gerar um peso enorme no hall de propriedades humanas. Ainda há quem as queira em profusão.

Tento me desfazer desse ano acabado, me desfazendo das inutilidades que acumulei, prá fechar com chave de ouro, compro cigarros, vício infindável, retrato máximo da compulsão suicida, da narcose necessária quando a condição e os tempos são difícil digestão.

Aos meus gatos pingados desejo uma passagem modesta, com o delicado essencial, tipo: uma biritinha, alguns fogos que vc vê por acaso, sexo que ninguém é de ferro, entes queridos, hehehe.

até o ano q venha! e francamente, pouca coisa vai mudar, se você não mudar.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Sobre postar merdas - com correção agora

Não, eu não sou uma digna senhora, cheia de boas intenções e propósitos beneméritos. Qualquer leitura no gênero configura extremo engano. Sim eu digo isso para que os bem intencionados se fodam, juntamente com os equivocados que por vias duvidosas caiam nesse novelo de mentiras ardilosas.

Esse blog que ninguém entende e menos ainda tem saco de comentar, exceto raras exceções, esforçados amigos, gente que peca por uma educação etcétera.

A quem interessar possa: o purificador de água continua arrebentado, tenho que ficar aabrindo e fechando a merda do registro, semana passada a tv estragou e eu levei tres dias prá descobrir, a empregada quebrou o telefone e esse pc tá fudido no drive de som que é a única coisa que me valia.

Amor o escambau, to puta com sua mania de ser politicamente correto e hipocritamente construtivo, anti guerras e o caralho a quatro. Não aconteceu um linchamento e foi uma pena, reitero.

Ademais transformei suas desculpas em pimenta com chocolate. Não dá prá brigar com você, lê isso aqui!

hohohoho

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Parábolas, nãoooooo

Quando se é criança ouve-se muitas histórias de moral duvidosa, feitas prá te encher de medo e culpa.A educação sempre teve esse cunho perverso, e conclusões hipócritas, então eu afirmo que evoluímos muito. A literatura infantil hoje é pura magia e libertação, com raras excessões, quando os pais ou a escola são desleixados e repressores.

Agora que o ano acaba, passando pelo natal - que deve passar longe de igrejas, naturalmente - é uma grande oportunidade de reunirmos as nossas crianças, parentes, vizinhas e amigas e celebrar toda a fantasia sadia desse pensamento mágico e despretensioso da infância, esse espaço sagrado de amor e atenção. Teatro, brincadeiras e jogos, exercícios de satisfação e sinceridade.

Prá quem já convive com elas, muito fácil. Prá quem está distante, uma oportunidade ímpar de reciclar mágoas, reviver insights, correr atrás dessa magia perdida.

Gente, o resto é cartão de crédito, shopping e cachaça, nem vale a pena bulir nisso.

domingo, dezembro 03, 2006

Do poema prá ser vivido

Nada pode ser mais plural que um poema, quanto mais despretensioso, mais escarafunchado e hiperinterpretado, sacaneado semânticamente, semiologicamente, querem dessecar o ser humano vulnerável que se deixou distrair a tal ponto.
Daí uma pedra pode ser uma cordilheira atravancando o sentido inextrincável, a coitada da flor então, vira genitália, cogumelo atômico, fetiches mil dessa vampiragem intelectual.
Uma rede de insolência e desconfiança persegue quem escreve, assim distraído e solitário desejando apenas brincar com o tempo.
Meus olhos estão colados em cada situação rotineira ou bizarra, filmando tudo prá um deleite próprio, um exercício de sobrevivência e comunhão com outros amigos assim como eu, ilhados pela solidão de saber, sem nada saber, aquilo que se sabe, sem saber como se sabe.
Mas a palavra escrita, solta a força maldita, alivia a dor intermitente, é palavra que convoca o conforto ausente, fala de ser pra si, ser irreverente, feliz indiferente, alma livre coração demente, apaixonado condescendente, com a fraqueza humana, com a carne tirana, essa pândega de existir que emana, desejo, desejo, desejo.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Ode ao medo ou I'm sorry

Combate aos medos

medo do mar: desejar
medo da perda: possuir
medo da seca: embebedar
medo do outro: buscar
medo da letra: soletrar
medo da rua: caminhar
medo do gozo: suplantar
e o medo do medo: sublimar

sempre é cedo para desfiar os medos, são muitos os segredos, esse novelo grande e solto no espaço, que desafiamos, desnovelamos, surpresos. A vida, essa edificação se desconstruindo em silêncios, fabricando venenos, consolidando elos humanos, rede de gentes e carentes sentidos.

corajoso e impávido: onipresente medo.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Gato solene

Assim é que ele caminha leve e alerta, como os gatos nos muros. E vai explorando territórios para depois fazer as devidas advertências no seu mapa camarada, nada como esperar avisado pelas surpresas e sustos da caminhada.

Lá vamos ultrapassando obstáculos, desmascarando mentiras de conveniência, inventando expressões e a farta bobagem, imprescindível.

Os desafios das manhãs vencidos pelo exercício diário das metas menores, persistência. E antes que eu vomite um delírio Poliana, calo.

Enamorada que estou desse gato, dark prá combinar com minha luz predileta e lingerie.

sexta-feira, novembro 24, 2006

quinta-feira, novembro 23, 2006

Umidade e sorrisos

Sei não. Não acredito em coincidências. Você cruza com pessoas todo o tempo, em tantas circunstâncias da vida, então porque algumas delas se instalam na mente, no pensamento ou no metabolismo da gente? Há pessoas que numa primeira leitura parecem dominar uma linguagem, um dialeto, um discurso de foro íntimo?

Assim é, que o tempo passa e essas pessoas ficam por perto, trazendo sempre novas emoções e compartilhando as nossas, e nos sentimos tristes com a tristeza delas, felizes com seus sucessos, frustrados com suas decepções. A vida passa tão depressa, o trabalho, as conquistas, fracassos e realizações.

Acho até que existe uma espécie de fechadura na gente, que faz de algumas pessoas peças chave, literalmente, nessa montanha russa cotidiana, longa, pura, profana, loucura de existência.

quarta-feira, novembro 22, 2006

o dia do inimaginável

Ocorre que me deram uma dica, tipo, posta seus sonhos. Já que tô rasgando dinheiro (só nota de um, real/virtual...). E com as pedras que me atiram, construirei o meu lar - podre. Enfim vou contar.
No sonho 1 - Descobria a casa dela, conversávamos sobre a loucura e seu contágio, sobre a lucidez delirante. A necessidade da realidade e que ela não existe, da mesma forma que a loucura seria uma impressão passageira, como as distorções das imagens próximas do fogo, todo o tempo estamos à beira do fogo de olhos abertos sic. Depois eu disse a ela que amava demais sua presença e ela dizia prá não ter mais medo, medo dos gritos e gestos pseudoalucinados.
sonho 2 - Era chantageada por um canalha, de fisionomia banal e familiar. Oprimida então pulei a janela, era o mar raso onde eu queria afogar quem me seguisse, muito raso e eu não pude me vingar. Tudo era romper a opressão... Sempre essa coisa maldita para o feminino.
pff, esquece o diagnóstico, a coisa anda desse jeito, mas já me importam alguns amigos, sobretudo os que vivem em apuros, caçando confusão e pedindo conselhos: bah... Euzinha? tem certeza?

sábado, novembro 11, 2006

Camões

"Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim
Anda o mundo desconcertado."

não pisa nos seus sonhos.

terça-feira, novembro 07, 2006

Hiato Criativo

Aqui chove mais que no inferno, todo mundo sabe que chuva é coisa do demônio. Até quem não sabia, agora sabe. Foi um longo tempo de silêncio, o mundo sendo essa incansável caixa de pandora, vomitando desgraças.

Parei porque me dediquei a assistir ao crescimento das minhas azaléias rosa púrpura, cuidar para evitar a explosão do velho fogão, a vedação dos canos, a ginástica da existência que se resume na manutenção.

Ouvir amigos também é uma boa prática, sobretudo se eles estão felizes, nas entrelinhas de suas tragédias pessoais, óbvio. Em homenagem a quem se queira sentir homenageado, nesse espaço não existe dinheiro, trabalho escravo, empresas vistas de trás da mesa, empresas vistas por aqueles que estão diante das mesas, empresas no monitor e na tela. Nesse espaço não existem governantes e governos, não só porque não os quero, mas também e muito principalmente porque eles não querem gente como nós, desgovernados e imersos na ironia cotidiana.

Então tá dito, caminhando na dificuldade, no desfeito refazendo a simplicidade, tudo por causa do amor. E por favor, veja se me entende, deumavezportodas: por causa do amor.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Viajando

Depois de um dia na fazenda vertendo água salgada, pensando q a tarde na praia o sol ia se pôr mais lindo.

Flores saltam da seda, da chita também, mas esta é outra história. A edificante caminhada ao cemitério dos escravos, que são uma pobres bolhas nos pés?

As notícias pingando sangue, enquanto suas aplicações garantem a liquidez, sustentam hipocrisias, patrocinam as guerras.

No contexto um manto de estrelas cobre a terra, sobe a tela, tanta tinta e vazão. A diferença principal é que uma coisa - a pintura, te deixa livre para criar, a outra coisa - a escrita, é feita em códigos, discurso ou balbuciar.

Ophélia quer voltar...

quinta-feira, outubro 19, 2006

Um blog inútil

Tá bem, faço o blog...

Com o propósito de produzir subliteratura, propósito obviamente inconsciente, na verdade queria experimentar um diário solto na blogosfera, essa terra aparentemente de ninguém que está cercada de pequenas ilhas e tal e coisa.


Ophélia precisa de tempo... Talvez nem precise na verdade. Ophélia abandona o barco, navegar outros mares...

quarta-feira, outubro 18, 2006

Memória

salada de frutas
sandália chinesa
pastor alemão
banho de rio
estrada de terra
espelho, espelho meu
dor de perna
silêncio
avião, avião, avião
medo e morte
c cedilha
a alma em carne viva
insônia
cartilha
solidão

terça-feira, outubro 17, 2006

A morte da ortografia, sua longa agonia, e já vai tarde

Na web cada um escreve como sabe, pode e lhe convém. E vem aí novas linguagens muito bem vindas, inteligíveis que sejam é claro. As crianças sofrem muito na passagem da linguagem oral à escrita porque já assimilaram uma gramática implícita nos falares do ambiente e em seu profundo e relâmpago processo de maturação. Quanto aprende uma criança na primeira década da vida, andar, falar, escrever, fazer a própria higiene, aprender escolhas etc?

Isso aí é tema prá muita polêmica e pouca conclusão. Eu gosto de gramáticas e dicionários, mas me sinto muito à vontade para errar, coisa que é por demais humana e comum.

Pessoalmente, esquartejava o professor pasquale cipro neto, eu acho que é esse (?), um que entre outros dejetos que alardeia, quer o correto cunho vernáculo em seu lugar. Hoje estou para poucos amigos, e esse sujeito me exaspera...

Enfim, eu erro, tu erras, ele erra... erramos todos vez por outra. Não há por isso nenhum constrangimento que caiba... A gramática, a etiqueta, a ética, que aprendemos em casa, na escola e experimentamos no cotidiano, são por demais delicadas, um fio fino entre o certo e o errado. Por isso existe aprendizado, desde o mais remoto cair e levantar. Há sempre uma correção se isso vier a nos incomodar, ou não... podendo ser o "erro" um delicioso ato falho...

domingo, outubro 15, 2006

Desertando de Piegas City

Hoje é domingo e tem gente delirando mais e melhor, recolhida à minha insignificância literária, recomendo demais: http://www.abominnavel.blogger.com.br/

abominnavel disse tudo

hj eu to cuspindo lá longe, sugiro um concurso, não é exatamente original. Tá rolando.

sábado, outubro 14, 2006

Hoje é o tempo, da delicadeza



Todo o sentimento Cristóvão Bastos - Chico Buarque/1987

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo
Da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar
E urgentemente

Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo o sentimento
E bota no corpo uma outra vez

Prometo te querer
Até o amor cair
Doente
Doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro, com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei,
como encantado
Ao lado teu

sexta-feira, outubro 13, 2006

Tem mais água nos meus olhos que nesses todos oceanos, o que não sei explicar no momento, descontei na br e vim pisando com pressa, correndo, passandos os carros, perdi a hora, de qualquer maneira tudo é demora, e derramamento de momentos que não passam, são lágrimas que já foram choradas, elas retidas à margem de mim, exteriores a mim, internamente assim.

Eu achei e não sei onde encontrar, me possui sem tocar, coisa non sense mesmo esse jeito de amar.

Eu vou me vingar dessa fidelidade lendo Nietzche, mesmo sendo cega vou de Freud, deixo Sade me frequentar. Isso tudo regado ao soneto da fidelidade, com o fantasma de Vinícius jurando a imortalidade da chama, bem malvado ingênuo, com versos de Born to be wild na cela da prisão.

Estou desse jeito, mas mudo depressa, efeito travessa, vai passar...

Espero alinhavando uma costura, uma Penélope determinada e impura, sonhando seu Ulisses além mar. E o tempo que alivie, algum deus que interceda nessa curiosa confusão. Devolve minha solidão, a inércia, a constância, aquele inferno menor que precedia essa paixão. Ou me queime depressa, que eu sou meio esperta e viro Phoenix na multidão.

quarta-feira, outubro 11, 2006

Tabacaria & inquietude

"NÃO SOU NADA
Nunca serei nada
Não posso querer ser nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
...

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Hoje estou dividido entre a lealdade que devo
A Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora
E a sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro"

Fernando Pessoa

é um empréstimo, estou repleta, completa.
um longo dia de seda e rendas,
um dia de luta como tantos outros,
minha pessoa apaixonada irriquieta.

Entorno nas palavras
jamais poderão como o silêncio
como a plenitude da ausência
os segredos das entrelinhas

todas as faces da pulsão
as tentativas fúteis
pressão, expressão
jogo pro alto

não sem razão: miragens
trilhando caminhos
acho que achei tudo,
imagem e mensagem
tudinho.

eu quero seu coração.

Feche os olhos

beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca
beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca
beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca beijo na boca
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terça-feira, outubro 10, 2006

1979-1996

Haja vista
toda gente
organizações e labirintos
interrogações
pelas marcas no corpo

São dois lutos
amigos, parentes
viscosas paixões
e os dias nascem
pára e pasma

Gavetas reviradas
documentos e fatos
fotos e casos
estou cansada
das marcas

Um existir estigma
Sempre a jornada
reino enigma
hoje não rola
estou cansada.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Improviso para assustar a solidão

Tranquei o caderno, vou falar como quem se despe, o que só pode ser mais divertido. E fazer música atirando o chinelo na parede, o cachorro no sofá, a louça na pia...

"aqui prá nós, cantar não está prá peixe, tem coisa transformando água em pó, amigo velho amar não interessa, eu quero é destilar as emoções"...

Linda música, mas amar me interessa sim, é só o que interessa, e saber seus pensamentos, e confiar nos momentos, destemperar o concreto, correto, burocrático, massacramentos que nos impõem.

Enquanto houver coragem para enfrentar essas tardes cinzas, haverá força e crescimento, um frequente aumento, senão do lucro do pedaço de papel verde, o lucro da superação, o riso, o passo ensaiado, agora preciso, porque há rumo e direção.

O resto são pássaros coloridos, águas translúcidas e pessoas bonitas, surgindo no verde, nos cabelos de nuvens, nos olhos de lua em imensos lençóis. Esse fantástico cinema grátis, cultivado na escuridão.

Segura firme, é travessia, pega a minha mão.

domingo, outubro 08, 2006

Veludo

Há uns dez anos, mais ou menos, tivemos um peixe azul, de briga, seu nome, Veludo. Viveu conosco por um curto período de seis meses e deixou um registro no dia de sua morte, no diário da época.

Desde que vi tal registro, em letras claras, nesse obtuário improvisado, me perguntei quantos Veludos atravessaram minha vida, ocuparam meu afeto, meus cuidados, inspiraram paixões que flamejam no amanhecer.

Há Veludos que são eternos, vão se fisicamente e continuam a interrogar pelo próximo evento de amor, os gestos perdidos ou achados na memória, aquele luto que não se fecha, implorando protestos negros exibicionistas.

Cada dia que passa cuido melhor dos meus Veludos, por saber que um dia hei de perdê-los, por conhecer a intensa felicidade de tê-los, por viver um subreptícil medo, atravessando a espinha, como um aviso, uma ameaça odiosa...

Não, eu não saberia perdê-lo...

quinta-feira, outubro 05, 2006

Um certo poema e saudade

De manhã, no ruído da água caindo
pela torneira aberta
o poema...
Fuga maciça das estrelas
das galáxias vizinhas

Combinar um vestido e um perfume,
tarefa agora de absoluta impossibilidade
Café com papel
papel com letras

Olho e olho ainda
repito, mastigo, o poema enorme,
não pára de crescer
cada momento um sentido

leitura e leitura,
como no mundo cabe?
tantos sentidos sentimentos
presença momentos...

assim perdido longe,
perdido sentido, monge.
frases palavras um susto:
um surto de solidão.

imensa a absurdidade
parece mentira e é verdade
um sentimento de infinito
dentro de uma aguda saudade

segunda-feira, outubro 02, 2006

A maior ponte do mundo

A maior ponte do mundo é um conto imperdível do Domingos Pellegrini e fala da maneira alucinada com que se constróem as coisas por aqui, no caso a ponte Rio-Niterói. Cortázar que também gostava do símbolo dizia simplesmente: não existe ponte que se apóia de um lado só. Lenine também tem sua ponte que começa com um monólogo lindo explicando que música está em qualquer lugar, que pode começar batendo lata e terminar matando a fome de um guri.

Eu de mata burro a pontes imensas sempre fui fascinada por pontes, que são as metáforas perfeitas de como as pessoas podem se relacionar através da linguagem. E não é à tôa que nas guerras são os alvos fáceis para desmantelar comunidades, tornar sem acesso as cidades, por aí vai.

"Esse lugar é uma maravilha, mas como é que faz para sair da ilha? É pela ponte"... Grande Lenine. Imenso Cortázar.

bj no coração

domingo, outubro 01, 2006

Domingo, o dia...

No meio da fumaça retalhos de diálogos, silêncios, idéias apaixonadas ou superficiais, ou inquerindo e debulhando minha ignorância. A cara de pau com que fuça minha intimidade e vasculha mentes das gentes ao redor.

Tentando explicar por trás das palavras de quem cresceu cercada de montanhas e sabe se esconder e sabe aparecer antes do pôr-do-sol, num céu vermelho que só existe aqui.

Bom é imaginar seus olhos, o jeito como segura o cigarro, sua forma de beijar, seu frio, seu calor, seu cheiro... De qualquer forma combinamos a caminhada na praia, é como se fosse logo, que fosse amanhã. Coisas que lhe dizem respeito sempre me interessaram, ainda e muito mais.

Comemoro enfim a lei do phoda-se com que anulei alguns dos votos e sou livre outra vez, para ser só dos meus sonhos e fantasias, que são mesmo muito de você, um mistério, muitas revoltas e sedução.

É bom ganhar, melhor que não lutar, há tantas coisas acontecendo e o cotidiano demanda outras batalhas. Hoje foi um dia de vitória, liberta das trapalhadas do ideal, do compromisso com a doxa, um coito do paradoxo, mais sexualidade da razão.

e dá-lhe!

que domingo é o dia

sábado, setembro 30, 2006

Desconfiança

Os mails dizem de acontecimentos espetaculares, de ideologias contraditórias, o que não sabem os jovens é que todo esse jogo de cena é mais antigo que andar prá frente, aqui em terras brasilis. Mas são tantas as contradições que fica evidente a crise, a crise que atravessam as pessoas no mais íntimo delas, é uma crise de discernimento, de razão.

Eu por mim vejo esse entusiasmo todo com uma certa desconfiança, com muita pena mesmo por saber que não se fazem mais elites como antigamente, elites de dinheiro contado, elites que ao pensar e escrever tentavam ser dignas, comprometidas, muitas vezes por causas simples, muitas vezes pensando com grandeza na construção de suas escolas, na dignidade de seus nomes, na minoração da orfandade escolar, e a sempre imprescindível presença da poesia, veiculando rebeldes, confortando mentes inquietas, provocando amores, uma sexualidade cívica.

Isso tudo é muito passado, e hoje e amanhã quero ver o comportamento desconfiado, escaldado quanto a capacidade de gerir o caos instalado no inconsciente das pessoas, e como dizia outro dia um grande amigo: onde o ego do eleitor vai calhar com seu candidato a eleger? Teremos ainda empatia com um operário macunaíma?

Votem amigos, inimigos, desconhecidos familiares.

"Com respeito ao juízo que faço de mim mesmo, procuro sempre inclinar-me mais para o lado da desconfiança do que da presunção" ... "sujeito ainda a fazer o testemunho do juízo, à fraqueza e instabilidade da memória, o testemunho enganoso dos sentidos."

Descartes

O resto é balela, houve o futebol, haverá carnaval, domingo eleições... Juízo não formula inteligência, aquela que socorre outras faculdades.

Está instalado um juízo de circo e alienação.

terça-feira, setembro 26, 2006

As impressões do dia

Vamos rir um pouco da paranóia alheia, que diz que há cobras à sombra prontas para dar o bote. O cenário já não é mais de suposta apatia, nem um teatro desocupado, há um discurso primitivo e maniqueísta ditando os próximos passos, não é tão simples assim. Disso fim.

Para nós uma tempestade de neve ou um dia de quarenta graus, qualquer choque de extremos, desde que extremos. Dar um tempo de babel e pressa. Só lamento, mas vou à festa e nem serei eu a sair de lá, dadas as circunstâncias, você melhor que compreende, será solidário...

Imagine que descobri que o papa sobe e desce de um "trono", pode? Acho que ele é mesmo muito poderoso, prá pendurar o deus dele numa cruz...

Sonhei uma imagem de uma igrejinha submersa num mar muito azul, cheio de peixinhos e sereias, haviam crianças de todas as raças, mortas, soltando pipas... Pura intrusão da realidade e acordei chorando, sozinha.

só mais um dia.

segunda-feira, setembro 25, 2006

A semana sem lua

Será uma semana de imediatismo e cansaço, lua nova no calendário, mas oculta no céu. Penso que será muito difícil driblar a realidade cada dia mais grotesca e/ou levitar, ou assumir aquele nariz de palhaço que tá na moda por aqui. Delinqüente só vai preso se for flagrante, precisam dos votos dos bandidos, porque bandido esperto vota em bandido etcétera. E eu que não me identifico com a realidade banal de "indigna nação", vou ter que assistir a mais um circo dessa terra de ninguém.

Eu pensei em dizer que foi bom falar hoje, mas foi confuso e rápido, então a gente comunicou chongas de coisa alguma... Coisa de relacionamentos antigos, prefiro telepatia.

Olha que eu bem queria falar de coisas maiores e mais importantes, mas urge tudo, o tempo, a fala, cada gesto, cada falha, e enfim, surpresas virão, é inevitável. Minha experiência assegura que tempos difíceis virão. Mesmo tendo escondido o tarô, mesmo tendo perdido o I Ching, posso afirmar, nessa areia movediça, talvez salvemos apenas, nosso amor alienígena e cosmogônico, ok?

por hora, e o de sempre.

domingo, setembro 24, 2006

Onde se guardar

"Você deveria não conhecê-la, tê-la encontrado em todos os lugares ao mesmo tempo, num hotel, numa rua, num trem, num bar, num livro, num filme, num jardim, em você mesmo, em você...

(...)

Quando você chorou, era por você apenas e não pela admirável impossibilidade de alcançá-la através da diferença que os separa.

Da história inteira você retém apenas certas palavras que ela disse no sono, essas palavras que dizem aquilo por que você está tomado. Bem rápido você abandona, você não a procura mais, nem na cidade, nem na noite, nem no dia.

Assim no entando você pode viver esse amor da única maneira que se podia para você, perdendo-o antes que ele acontecesse."

marguerite duras

hoje é domingo.

terça-feira, setembro 19, 2006

Missiva

Levantei tarde e no sonho você era uma espécie de visão nítida da felicidade, chinelos gostosos, nicotina, caneta macia, casa cheia de flores, amigos, música, orgasmos múltiplos e tal. Sábado faltou luz e eu vi você no fogo das velas. Ontem perdi uma grana que me vai fazer falta, paciência. Os dias tenho tido-os ocupados com estratégias de sobrevivência. Chove e faz frio, venta muito e nem posso pegar a estrada de tal maneira me encalacrei com a prática doméstica. Por isso nem tenho mais ideologia e indignação, acho que só te encontrei no sonho porque devo mesmo estar com muita saudade. Ando lendo o que me cai nas mãos e trata de política, é muito material e ainda não encontrei o tom. Corri os olhos pela sua missiva e eles se encheram d'`agua, por causa, eu creio, de sua honestidade cínica ou senssibilidade, o que dá na mesma. Minha vontade do impossível vira vontade de roupa nova e todas as músicas só fazem aumentar o hall de desejos. Pois sim, por hoje é tudo, mato meus leões diários, vou fazê-lo agora, amanhã tem outro. Até muito breve.

Eu

domingo, setembro 17, 2006

"THE COUNTRY OF THE HOUYHNHNMS"

Para falar dos yahoos, se necessita
que as palavras funcionem de pedra:
se pronunciadas, que se pronunciem
com a boca para pronunciar pedras;
se escritas, que se escrevam em duro
na página dura de um muro de pedra;
e mais que pronunciadas ou escritas,
que se atirem, como se atiram pedras.
Para falar dos Yahoos se necessita
que as palavras se rearmem de gume,
como numa sátira; ou como na ironia,
se armem ambiguamente de dois gumes;
e que a frase se arme do perfurante
que tem no Pajeú as facas-de-ponta:
faca sem dois gumes e contudo ambígua,
por não se ver onde nela não é ponta.

2.

Ou para quando falarem dos Yahoos:
não querer ouvir falar, pelo menos;
ou ouvir, mas engatilhando o sorriso,
para dispará-lo, a qualquer momento.
Aviar e ativar, debaixo do silêncio,
o cacto que dorme em qualquer não;
avivar no silêncio os cem espinhos
com que pode despertar o cacto não.

2. (outro)

Ou para quando falarem dos Yahoos:
não querer ouvir falar, pelo menos;
ou ouvir, mas engatilhando o sorriso,
para dispará-lo a qualquer momento;
ouvir os planos-afinal para os Yahoos
com um sorriso na boca engatilhado:
na boca que não pode balas, mas pode
um sorriso de zombaria, tiro claro.

para e por todos que viveram a educação pela pedra
João Cabral de Melo Neto

Quanto aos domingos, é o seguinte:

razão, utilidade, direção, transmissão... recurso e visão, escrever é um para si, antes de tudo, ou deveria ser... exercer a linguagem própria, exercer-se a si mesmo. A maior LiBeRdAdE, a mais legítima. Daí a ler, nada perde quem não queira.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Pintura e devaneios

Misturava as tintas compondo na desordem, imensa e assombrosa a maneira contemplativa, fase a fase, todas as faces que o mundo tem e tinha.

Lavava os pincéis e secava num pano manchado, guardando então com todo cuidado, pondo as tampas nas tintas.

Só então oferecia as telas úmidas de expressão, como prontas a serem fecundadas pela realidade fálica, quando explodiam plenas no gozo do sentido.


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O menino é inquieto, pergunta sem pudores, puxa minha saia, acaricia o cachorro. Eu respondo, explico, corro o tempo todo. Ele sorri e com tanta naturalidade faz evento de acontecimentos banais. Quer saber o tamanho da codorna quando sai do pequenino ovinho. Qual é o tamanho? Qual é a medida do incomensurável amor?


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Eu sou a mulher de seda, cor de crepúsculo, tenho pimenta nos lábios e conheço os caminhos que voce ignora.

Sou um monte de sílabas que formam as palavras saindo da ponta dos seus dedos nesse teclado nosso cúmplice.

Sou aquela crença da sua infância que você nega e renega, mas quando estás a perigo, ora com fervor.

Aquela música que deixa seu corpo sem lugar e o lugar onde seu corpo quer se guardar.

Sou também ninguém e alguém a quem voce quer bem, que sempre pode ser pouso e repouso onde sua mente inquieta vem quedar...


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Um coração barco à deriva, esbarrando nessas fantasias, esperando uma felicidade prometida por nenhum deus escriba. Os aspectos que seduzem são aquelas luzes acendendo momentos efêmeros e eu quero um dia palpável nessa cidade de plástico, de sorrisos de resina e out-doors.

Faço promessas e voce vento nas frestas das janelas que eu não vou fechar.

Não rasgue o papel, guarda a imagem, permita-se perder na mensagem, quebra o cálice, quebra esse cale-se!

Por mim.

domingo, setembro 10, 2006

Como um vento

Não nos encontramos para selar união e trajetória,
antes sim, um avesso de história.
E meu coração desobedece a rotina
e cria rituais para lembrá-lo,
em segredo, celebrando louco
um derramamento insólito,
um desalento...

É como se a toda hora você se fosse,
como um vento,
gelado, lento
e doce.

Assim, moço de olhos vividos,
rápida e extrema,
uma coisa que ilumina,
uma luz quase divina,
no escuro meu,
do meu corpo maduro
diante do espelho...

Uma mulher que te quer, no silêncio desse escuro, no seu corpo maduro.

sábado, setembro 09, 2006

Mais que um amigo

Quem inaugura minhas manhãs, com uma alegria incontrolável, com fome de comida, de água e sobretudo de canteiros, jardins, ruas...

Quem me atende a qualquer distância, conhece o motor do carro, até porque é muito gasolina, ele sempre vem, exceto quando a concorrência é desleal e há alguma donzela no cio. Rola demoradamente na grama, deseja frutas e biscoitos.

Para sua casa, elegeu a sala, os sofás, almofadas que derruba de acordo com seu humor e necessidade de atenção. Onde guarda os seus brinquedos e ossos, onde come suas iguarias.

Tem sombrancelhas espessas e um bigode pleonástico, cheira a mundo. E se esquece no meu colo horas a fio quando vou escová-lo. Fica vaidoso em sua colier rouge.

É valente e prepotente e odeia os demais do seu gênero, furioso lança com força as patas trazeiras, rosna e late, indiferente se são minúsculos yorkshire's ou terríveis pit-bulls.

Inverte papéis e se acha meu dono, me disputa com os outros membros da casa. Se deita ao meu lado e sabe, sim ele sabe que se trata dele esse momento de escrita.

Porque meu coração está aflito com sua cirurgia, tenho medo e espero uma resposta do veterinário, porque é mais que um amigo, é parte de minhas simples essenciais alegrias...

quinta-feira, setembro 07, 2006

quarta-feira, setembro 06, 2006

A farta loucura

Desse ponto em diante é impossível dar asas à razão. Opostos, limites, se manifestam em curso livre, como numa forte correnteza de rio. Afetos, humores flutuantes, apaixonados, estarrecidos, irados ou delirantes, se alternam intermitentes.

Essa loucura desencadeia-se a si mesma, mira o inatingível, sem ela onde caberia o abissal do amor?

Como suportar a insuficiência senão na fusão com o outro? A intelectualidade sucumbe a outros apelos, primitivos. É um vazio do Saara, o rompimento de um dique, um fantasma e sua extensa sombra sob o sol. A geometria inventa o paralelo oposto. Esse fio que se desnovela, focalizando palavras e comungando silêncios...

Enfim, atentos que somos à nada simples delirância, num mundo onde imperativa é a crueldade, como num manifesto de Artaud, num teatro aberto e perverso, desafio mesmo é a construção de um amor inventado, além do fascínio ou da confusão, que não se dissolva na amplidão de seus ecos.

De resto queima e gela uma voz meio rouca e um par de olhos intrigantes.

terça-feira, setembro 05, 2006

Ficções

Se uníssemos nossas mãos você saberia que boa parte do tempo, as tenho frias. Mesmo assim eu te agasalhava e soprava a sua boca, só prá você soprar a minha e misturarmos nossas almas. Não existia consulado, oceano e ponte aérea impedindo um encontro e você pulava de dentro dos meus livros preferidos, sorrindo e me contando bobagens, daí era entrar naquela cachoeira, num dia de sol quente, depois de andar trilhas no meio do mato, eu servia chá com bolo de banana e canabis, da minha receita secreta, anoitecendo nós procurávamos um lugar para dançar e nem veríamos o dia nascendo nos lençóis brancos que eu queria comprar, até esquecia que você deu uma escapadinha estratégica e chamou nossos registros de jargão psicanalítico, eu contava isso para o meu corpo que ia ficar feliz demais, mudava meu metabolismo e ríamos muito e fazíamos uma festa com champagne e absinto, na praia levando tulipas vermelhas de Amsterdã para Iemanjá. e...

o que poderia ser mais concreto que tanta ficção?

domingo, setembro 03, 2006

Arkhé

Eros, um deus demoníaco.

Furor arqueológico, dos primeiros registros e seus desdobramentos, modelo da história de uma divindade que se tornou recorrência corriqueira, esfinge, assunto sério e brincadeira.

Na Teogonia, no começo, o universo era constituído de três elementos: o Caos, espaço aberto, matéria rude e informe, à espera de organização: A Terra, ainda inconsistente e cheia de cataclismos, e Eros, a força que permitiu a aproximação e combinação de seres e coisas.

Órficos dizem que ele nasceu do ovo primordial, engedrado pela noite.

Para Platão, é nascido de Poros (recurso) e Pênia (pobreza), razão pela qual a todo tempo busca seu objetivo - pobreza, e sabe imaginar meios de atingir seus alvos - recurso.


Cosmogonias:

"Somos seres vibrando
Força e beleza cósmica
Mundos estranhos em movimento,
que de repente
podem se tocar
na dança da precisão do acaso",

Ex arkhés,


o legítimo delírio de domingo.

sexta-feira, setembro 01, 2006

Era uma vez...

a garrafa de licor
o sofá e a sala
o cachorro
alguma dor

uma tela
propondo
sentimentos
armadilhas

ela vagava
palavra
imperativo medo
velha sábia, e,

ca-la-va...

foram para sempre...


***


São raros
puros
incenso
cálice
cigarro
cristal

penso nele

Se é chuva
faz frio
choro
rio
sou veloz
cumprimentos

e penso nele

Toca o telefone, acendo a luz, o céu escuro na janela, cigarro


ainda penso nele.

quinta-feira, agosto 31, 2006

Às vezes fico às voltas com o desejo de atender seu pedido, mas não se pode enredar qualquer um na teia de materiais que constróem essa realidade de olhos olhantes olhares...

A vida retalhada por momentos tão diferentes que parecem formas correntes de loucura, dispostas como sonhos se apagando na vigília, se alimentando do fantástico na tecitura do concreto, trocando de máscaras conforme a festa, trocando de par conforme a fantasia, trocando tantas noites pelos dias.

Em algum lugar deve estar guardado o fruto desse trabalho, que a medida do feito vai se mostrando por fazer e, quanto mais penosa, mais vulnerável é a existência humana.

Mapeado o corpo, procurar o centro, o titereteiro da vida, o chacra primordial...

E, com preguiça de tantos mecânicos professores, voltamos à sexualidade... que nos responde com gozo.

por hoje é só.

Crazy... maybe

http://www.youtube.com/watch?v=PWICOITmg1Q&NR

quarta-feira, agosto 30, 2006

Mousseline de Moranga com camarões

uma receita simples e muito delicada que meu amigo secreto me ensinou,


meia moranga cozida, batida no liquidificador com um pouco da água do cozimento
1 frasco de creme de leite fresco
meio quilo de camarões menores, bem limpinhos e fervidos rapidamente

refogar cebola, acrescentar sal e pimenta do reino

quando a cebola estiver dourada, colocar a moranga batida, o creme de leite e os camarões,

se for tempo de vacas magras, substitua os camarões por cubos de peixe branco.

bom apetite

terça-feira, agosto 29, 2006

Há uma luz que cega, sons distorcidos e uma estranha amnésia. Houve um passado? A terra é imensa, percorrê-la procurando vestígios e passagens, que tragam respostas na história dessas escolhas.A procura, atrás da verditude, cidades que se estendem cinzentas e empoeiradas, debaixo das pedras, entre flores sem perfume, nas águas de mares de ausências.

Sombras atravessam a cegueira como silhuetas de conhecidos dramas passados. Personagens fictícios de vidas emprestadas por deuses ancestrais.

Sim, não se pode devolver uma inocência mentirosa, todos no olho do furacão, desejosos de razões, e daqui hei de ser cuspida em páginas acesas pelo interruptor na parede do seu quarto, onde todos somos culpados, porque essa busca que é de todos, não é por acaso, é mera questão de escolhas.

segunda-feira, agosto 28, 2006

O que há por trás de um nome? O que revela-se numa fisionomia? O que se esconde? Os traços se traem.

Você vai? Você volta.

Esses caminhos áridos que você percorre como se pisasse águas calmas. Eu sempre te espero, o tempo nosso não obedece essa ampulheta digital. Suas palavras escritas com tanta intimidade nesta tela impessoal e vaga. E eu adivinho seu olhar, entre conquistas e queixas divertidas. Você penetra meus poros e preenche os vazios ávidos por idéias e conflitos. Minha sede de seres densos e ilógicos, minha necessidade de agregar palavras desesperadas por sentido.

É isso, soldado branco, você não desertou da guerra que nos consome perplexos, minas de decepções, ruídos de bombas imaginárias, sonhos destruidos. Nos intervalos cultivo flores, beijo bocas, fico parindo novos mundos, muitos em frágil papel de seda.

Somos nós por trás dos nomes. Você vai, você volta.

domingo, agosto 27, 2006

Again

Ophélia delira aos domingos e sonha com estrelas verdes que pode habitar e árvores silentes de uma floresta própria. Os delírios de Ophélia são úteis e ninguém a perturba nessas horas em que se ausenta da realidade.

Tratamos hoje das entrelinhas da paranóia, de países e personalidades que se sustentam no poder de informações e dinheiros que parecem fantasias, e ouve Badi Assad.

Criatura narcisista e excêntrica essa que vos fala... E se você veio parar aqui, é que não fica atrás. Essa menina que foi pobre demais, de finanças e afetos, me tortura, é uma mulher que no viés do olhar diz coisas de não se ignorar. Ela tem a estória de seu vestido único, de seus inimigos muitos, do seu apetite de aprender, de sua infinita ignorância que lhe mora nos seios, neurônios, e o gosto de brincar com medos e vaidades.

O fato do medo da solidão e pobreza que assola-nos a todos, não constrange tanto a criatura quase ausente, quase demente, quase lucidez e solução...

Isso é uma porta aberta, um convite, um novo convite a um recomeço. Volte sempre à mescalina da simplicidade. Again and again...