domingo, dezembro 31, 2006

Noites

E olhava tímida aqueles fogos de artifício na praça, bem à meia noite do dia trinta e um. E pensava em beijo. Sempre gostei muito de beijo na boca, aprende-se muitos segredos beijando a boca dos homens.

Então. A cidade pequena, montanhas por todos os lados e crescendo em progressão, fazendo a linha do horizonte, e a certeza de que clareando haveria banho de cachoeira.

Pessoas eram arcas cheias de guardados e mistérios, algumas costuras, contas, o dízimo, a solidão. Muito duro amanhecer sem a memória dos fogos. Haviam tantas coisas para saber que eu ignorava. Na minha ignorância, eu era, eu existia, eu estava, eu solidão. Passavam datas. Foi há muito tempo. Pedras nas ruas, pérolas nos dedos e um intervalo de décadas entre uma coisa e outra.

Ruídos e conversas picadas, gente indo e vindo. Para mim aquilo não me dizia respeito, não era nada naquela comemoração e isso era bom.

Quanto às décadas, sobra uma senssação de que o mundo não mede dores, o tempo não mede provações. Ele, o tempo, tem uma navalha afiada e de quando em quando, faz um talho na gente. Que é prá não nos esquecermos que a dor é aguda, e não nos esquecermos que ele pode mais: é um dos disfaces do todo poderoso, deus, em noites como essas, de natal e reveillon.

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Cadê meu divã?

Abro os olhos de manhã e pasmo: ainda respiro. Se não por este detalhe estaria noutra instância, livre de matéria e posses. Coisa chata é possuir, mesmo um copo vazio pode gerar um peso enorme no hall de propriedades humanas. Ainda há quem as queira em profusão.

Tento me desfazer desse ano acabado, me desfazendo das inutilidades que acumulei, prá fechar com chave de ouro, compro cigarros, vício infindável, retrato máximo da compulsão suicida, da narcose necessária quando a condição e os tempos são difícil digestão.

Aos meus gatos pingados desejo uma passagem modesta, com o delicado essencial, tipo: uma biritinha, alguns fogos que vc vê por acaso, sexo que ninguém é de ferro, entes queridos, hehehe.

até o ano q venha! e francamente, pouca coisa vai mudar, se você não mudar.

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Sobre postar merdas - com correção agora

Não, eu não sou uma digna senhora, cheia de boas intenções e propósitos beneméritos. Qualquer leitura no gênero configura extremo engano. Sim eu digo isso para que os bem intencionados se fodam, juntamente com os equivocados que por vias duvidosas caiam nesse novelo de mentiras ardilosas.

Esse blog que ninguém entende e menos ainda tem saco de comentar, exceto raras exceções, esforçados amigos, gente que peca por uma educação etcétera.

A quem interessar possa: o purificador de água continua arrebentado, tenho que ficar aabrindo e fechando a merda do registro, semana passada a tv estragou e eu levei tres dias prá descobrir, a empregada quebrou o telefone e esse pc tá fudido no drive de som que é a única coisa que me valia.

Amor o escambau, to puta com sua mania de ser politicamente correto e hipocritamente construtivo, anti guerras e o caralho a quatro. Não aconteceu um linchamento e foi uma pena, reitero.

Ademais transformei suas desculpas em pimenta com chocolate. Não dá prá brigar com você, lê isso aqui!

hohohoho

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Parábolas, nãoooooo

Quando se é criança ouve-se muitas histórias de moral duvidosa, feitas prá te encher de medo e culpa.A educação sempre teve esse cunho perverso, e conclusões hipócritas, então eu afirmo que evoluímos muito. A literatura infantil hoje é pura magia e libertação, com raras excessões, quando os pais ou a escola são desleixados e repressores.

Agora que o ano acaba, passando pelo natal - que deve passar longe de igrejas, naturalmente - é uma grande oportunidade de reunirmos as nossas crianças, parentes, vizinhas e amigas e celebrar toda a fantasia sadia desse pensamento mágico e despretensioso da infância, esse espaço sagrado de amor e atenção. Teatro, brincadeiras e jogos, exercícios de satisfação e sinceridade.

Prá quem já convive com elas, muito fácil. Prá quem está distante, uma oportunidade ímpar de reciclar mágoas, reviver insights, correr atrás dessa magia perdida.

Gente, o resto é cartão de crédito, shopping e cachaça, nem vale a pena bulir nisso.

domingo, dezembro 03, 2006

Do poema prá ser vivido

Nada pode ser mais plural que um poema, quanto mais despretensioso, mais escarafunchado e hiperinterpretado, sacaneado semânticamente, semiologicamente, querem dessecar o ser humano vulnerável que se deixou distrair a tal ponto.
Daí uma pedra pode ser uma cordilheira atravancando o sentido inextrincável, a coitada da flor então, vira genitália, cogumelo atômico, fetiches mil dessa vampiragem intelectual.
Uma rede de insolência e desconfiança persegue quem escreve, assim distraído e solitário desejando apenas brincar com o tempo.
Meus olhos estão colados em cada situação rotineira ou bizarra, filmando tudo prá um deleite próprio, um exercício de sobrevivência e comunhão com outros amigos assim como eu, ilhados pela solidão de saber, sem nada saber, aquilo que se sabe, sem saber como se sabe.
Mas a palavra escrita, solta a força maldita, alivia a dor intermitente, é palavra que convoca o conforto ausente, fala de ser pra si, ser irreverente, feliz indiferente, alma livre coração demente, apaixonado condescendente, com a fraqueza humana, com a carne tirana, essa pândega de existir que emana, desejo, desejo, desejo.