domingo, dezembro 31, 2006

Noites

E olhava tímida aqueles fogos de artifício na praça, bem à meia noite do dia trinta e um. E pensava em beijo. Sempre gostei muito de beijo na boca, aprende-se muitos segredos beijando a boca dos homens.

Então. A cidade pequena, montanhas por todos os lados e crescendo em progressão, fazendo a linha do horizonte, e a certeza de que clareando haveria banho de cachoeira.

Pessoas eram arcas cheias de guardados e mistérios, algumas costuras, contas, o dízimo, a solidão. Muito duro amanhecer sem a memória dos fogos. Haviam tantas coisas para saber que eu ignorava. Na minha ignorância, eu era, eu existia, eu estava, eu solidão. Passavam datas. Foi há muito tempo. Pedras nas ruas, pérolas nos dedos e um intervalo de décadas entre uma coisa e outra.

Ruídos e conversas picadas, gente indo e vindo. Para mim aquilo não me dizia respeito, não era nada naquela comemoração e isso era bom.

Quanto às décadas, sobra uma senssação de que o mundo não mede dores, o tempo não mede provações. Ele, o tempo, tem uma navalha afiada e de quando em quando, faz um talho na gente. Que é prá não nos esquecermos que a dor é aguda, e não nos esquecermos que ele pode mais: é um dos disfaces do todo poderoso, deus, em noites como essas, de natal e reveillon.

Nenhum comentário: